A comemoração do aniversario de debutante do Bugatti Veyron no mês de abril foi merecida. Por que? Porque este foi o bólido que abriu caminho para um segmento a ser desfrutado por poucos, o mundo do veículo superesportivo. Certamente Ettore Bugatti (fundador da Bugatti) não previa nem em seus maiores sonhos que a empresa que leva seu nome produziria um projeto de rua capaz de ultrapassar os 400km/h.
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Nasce a ideia de um superesportivo
O fato mais curioso é que o projeto que daria origem ao Bugatti Veyron foi iniciado nas costas de um envelope de papel nas mãos do famoso engenheiro Ferdinand karl Piech. Era o ano de 1997 e Piech já “matutava” o projeto de um super motor de 18 cilindros. A ideia era utilizar a concepção de um motor já utilizado na década de 30 na aviação. O famoso motor “W18” ASSO 750 de Issota Fraschini. Bastou um tempo livre em uma viagem no trem bala entre Nagoya e Tóquio para a ideia de “Piech” começar a tomar corpo.
A competência de Piech era inquestionável pois além de ser o CEO mais forte do grupo VW no mundo era nada menos do que o neto do lendário Ferdinand Porche. Mas a aquisição da Bugatti pela Volkswagen em 1998 também foi um fator importante porque deu asas ao projeto. Afinal a “expetise” para o desafio passou a estar dentro de casa. O projeto prévia um motor de aspiração natural “W18” com 6.2 litros de deslocamento volumétrico e potencia estimada de 550cv.
Os motores em “W” sempre foram complexos porque necessitam de muitos componentes e grande robustez. Em sua concepção, são necessários 3 bancos de 6 cilindros com separação de 60º entre si, 3 cabeçotes sendo um para cada banco e virabrequim único.
Entre outras novidades, o projeto previa 3 centrais eletrônicas escravas (1 para cada banco de cilindros), uma central eletrônica mestre para gerenciar as outras 03 ECUs, e 4 válvulas por cilindro (perfazendo um total de 72 válvulas).
Nasce o primeiro da dinastia – Bugatti EB118
Em 1998, a ideia inicial se concretizaria. Nascia o Bugatti EB118 (EB => Ettore Bugatti / 1 => 1º prototipo / 18 => motor de 18 cilindros). A carroceria foi desenvolvida por nada menos que Giorgetto Giugiaro (criador dos designs do VW Passat, Golf e Uno).
Seu interior não economizava em couro e madeira e o DNA de um carro superluxo estava presente no design. A apresentação ao publico foi realizada no Paris Motor Show do mesmo ano. O motor “W18” 6.2 litros oferecia 555cv a 6800rpm e 66,2mkgf a 4000rpm. Percorria a distancia de 0-100 metros em 5 segundos e velocidade máxima um pouco acima dos 300km/h. Era um desempenho de respeito, mas a VW queria mais.
Bugatti EB218 – o irmão mais novo
Em 1999, o segundo carro conceito também foi apresentado em um grande evento chamado Geneva Motor Show. Batizado com o nome EB218 devido ser o 2º protótipo, trazia o mesmo motor “W18” da primeira versão. Novamente desenhado por Giugiaro trazia como principal modificação as 4 portas ao invés de 2 portas do projeto anterior.
Os dois modelos conceito eram considerados carros de luxo e nunca foram produzidos em série, mas abriram as portas da Bugatti para o mundo do veículo superesportivo.
A contribuição do motor VR no projeto do Bugatti Veyron
O desejo de bater o recorde de velocidade em um veículo de rua rondava o time de engenharia da Volkswagen. Mas para tanto era necessário mudanças. Os EB118 e EB218 estavam dentro do segmento dos carros de luxo e não apresentavam uma carroceria condizente ao proposito de um superesportivo. No que tange ao motor, embora o projeto previsse a utilização de alguns componentes em comum com outros motores de serie o custo de produção seria extremamente elevado.
Havia então chegado a hora da Volkswagen assumir as rédeas da situação. A primeira ação foi mudar o projeto do motor. A necessidade de redução do tamanho e peso era premente. Em 1991, a VW já havia colocado no mercado um motor de conceito inovador. Um motor em “V” com angulo reduzido entre bancos e com a possibilidade de utilização de um único cabeçote. Este projeto era conhecido pela sigla VR (V => motor em “V” / R => Reihenmotor motor em linha em alemão) e seu representante de maior expressão era o VR6. Um motor de 6 cilindros em “V” com angulo entre bancos de 12º mas com um único cabeçote.
Utilizando como base o projeto do motor VR, o time de engenharia teve uma ideia ousada, porém, possível. Colocar dois motores VR lado a lado em uma disposição em “V” de 90º, mas utilizando somente uma árvore de manivelas e quatro comandos de válvulas. Para atingir a potência desejada foi decidido utilizar 8 cilindros em cada bancada. Nascia assim o WR16 (W => motor em “W” / R => Reihenmotor motor em linha em alemão / 16 => motor de 16 cilindros).
Nasce o superesportivo Bugatti Veyron
Os estudos para a concepção do Bugatti Veyron começaram em 2000. No entanto foi só em 2005 que o projeto foi concretizado. O motor WR16 necessitava de “vitamina” porque a ideia era que o valor de potencia ultrapassasse os quatro dígitos. Para isto seria necessário a adoção de turbocompressores para aumentar a respiração do motor, porque atingir mais de 1000cv não seria fácil. Visto ser necessário um 0-100km/h em tempo reduzido verificou-se que o “turbolag” deveria ser minimo. A solução seria adotar 4 turbocompressores de pequeno porte para alimentar 4 cilindros cada um com 1bar de pressão.
A carroceria do superesportivo seria de fibra de carbono. Para o motor definiu-se que deveria ser central com 8 litros de deslocamento volumétrico e 64 válvulas (4 válvulas por cilindro). Com potencia de 1014cv a 6000rpm e torque de 127,4mkgf entre 2200rpm e 5000rpm, o bólido bateu o recorde de velocidade em Ehra Lessien (pista de testes da VW na Alemanha) em 19 de Abril de 2005. A marca? Velocidade final de 407km/h e 0-100km/h em 2,5 segundos. Estava estabelecido o recorde mundial de veículo de serie mais rápido do mundo. O nome Bugatti Veyron EB16.4 havia entrado para a historia.
Uma curiosidade:
O nome Veyron foi dado em homenagem a Pierre Veyron que foi piloto da Bugatti nas 24 Horas de Le Mans em 1939. A sigla EB16.4 remete ao nome de Ettore Bugatti, e o numeral 16.4 refere-se ao motor de 16 cilindros com 4 turbocompressores.
Curiosidades do Bugatti Veyron
O Bugatti Veyron é oferecido para compra com algumas particularidades interessantes. A primeira é a utilização de pneus Michelin PAX. A família PAX da Michelin foi desenvolvido com uma estrutura interna reforçada adaptado com um anel semi-rígido o que permite manutenção do controle do veículo mesmo após a ruptura do pneu devido seu esvaziamento limitado. Para se ter uma ideia da tecnologia envolvida, o pneu pode ser montado somente na França e seu preço é estimado em R$ 70.000,00.
As configurações de condução podem ser separadas em 3 níveis. Acima de 220 km/h a suspensão hidráulica abaixa a carroceria a uma distancia de 9cm do solo. Ao mesmo tempo o aerofólio traseiro se posiciona para adequação do downforce necessário. Esta configuração pode ser utilizada até os 343km/h. Acima desta velocidade será necessário parar o veículo e utilizar uma chave especial que habilitará as configurações de motor e carroceria para atingir a velocidade máxima.
Os irmão mais novos do Bugatti Veyron
Em 2016, a Volkswagen decidiu continuar com o segmento. Apresentou no Salão de Genebra o Bugatti Chiron (em homenagem ao piloto da Bugatti Louis Alexandre Chiron). Além do design evoluído em relação ao Veyron o Chiron veio com um WR16 de potencia aumentada. Agora eram 1500cv e 160mkgf de torque. A velocidade de 0-100km/h caiu para 2,4 segundos com velocidade máxima limitada em 420km/h.
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Há de se reconhecer que o Koennigsegg Agera já tirou o recorde de velocidade em carros de série do Veyron, no entanto que ele foi o primeiro a abrir as portas deste seguimento. Se você tiver uns U$ 1.250.000,00 (aproximadamente R$ 7.500.000,00) na conta, poderá encomendar um direto da fábrica da Bugatti em Molshein na França. Você poderá escolher todos os detalhes diretamente do sofá da sua casa pelo site de Bugatti. E quando o carro estiver pronto será convidado para um curso de pilotagem na pista da Volkswagen em Ehra.
Engenheiro Mecânico com especialização em Automobilística. Professor de Ensino Técnico e Universitário. Criador de Conteúdo Digital.