O motor apresenta uma falha misteriosa que ninguém consegue identificar. Pode ser o cabo de vela. Muitos reparadores profissionais e caseiros se preocupam demasiadamente com a troca das velas de ignição mas nunca olham para o cabo de vela. Embora o cabo de vela pareça ser um componente que tem vida infinita, ele é o responsável por grande parte das falhas intermitentes (falhas que aparecem de desaparecem sem motivo aparente) do seu motor.
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Portanto, checar a condição do cabo de vela por ocasião da troca das velas é fundamental para manutenção da performance e consumo de combustível do seu veículo. A função do cabo de vela é levar a corrente do transformador de ignição ou da bobina de ignição até a vela de ignição sem permitir fuga de corrente ou falhas.
Devido a isto o cabo de ignição deve possuir algumas características:
- Possuir resistência a altas temperaturas, pois abaixo do capô todos os componentes são submetidos a temperaturas elevadas;
- Ter bom isolamento para não interferir no funcionamento de outros componentes (supressão para minimizar interferência por radio frequência);
- Resistir a alta tensão de funcionamento sem permitir a fuga de corrente;
- Alta resistência a ataques químicos, como vazamento de óleo ou combustível.
A maioria dos fabricantes de cabo de velas atualmente possuem 02 tipos de cabo.
- Cabo com supressor no fio (resistivo).
- Cabo com supressor no terminal (terminal resistivo).
As diferenças entre eles estão no modo de fabricação. O cabo de ignição com supressor no fio é confeccionado com fio de níquel-cromo. Sua proteção externa é em borracha tipo EPDM de alta resistência. O fio de níquel-cromo faz a condução da energia elétrica, e devido a isto sua resistência varia de acordo com o comprimento do fio (a integridade deste cabo é checada de acordo com seu valor de resistência conforme abordado mais a frente).
O cabo de ignição com supressor no terminal, como o próprio nome indica, possui terminais resistivos. A resistência de níquel-cromo está no terminal (lado vela). Desta forma, independente do comprimento, o valor de resistência é sempre igual.
É importante ressaltar que o tipo de cabo a ser utilizado é especificado pela própria montadora, não sendo recomendado sua substituição.
Manutenção, manuseio e instalação
Para verificação da integridade do cabo a melhor solução é verificar a resistência ôhmica do cabo. A verificação da ocorrência de faísca com a utilização de uma chave de fenda é uma pratica antiga e ainda bastante utilizada (porém não recomendada). Além do perigo, esta ação não garante a integridade do cabo, pois internamente o cabo é composto por filamentos que podem estar parcialmente rompidos, alterando sua resistência e interferindo na qualidade da centelha da vela.
A verificação da resistência do cabo é realizada com equipamento apropriado. Pode-se utilizar o Ohmímetro ou um Multímetro (este ultimo pode ser encontrado em casas do ramo por um preço bem acessível). Realize a medição de resistência de cada cabo seguindo o procedimento abaixo.
1 – ajuste a escala do multímetro para medição de resistência na posição 20,0 kohms.
2 – Realize a medição de resistência posicionando os terminais do multímetro nas extremidades do cabo.
Para cabos com supressor no fio (resistivo) cada peça terá um valor diferente de resistência. A resistência é de 7,0 kohms por metro de cabo (com tolerância de 40%). Para obtenção do valor exato pode-se consultar o fabricante do cabo por meio do SAC correspondente.
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Para cabos com supressor no terminal (terminal resistivo), o valor de resistência dos cabos de vela varia entre 4,0 komhs e 8,0 kohms. Para os cabos de bobina a variação é de 1,0 kohms e 3,0 kohms independente do comprimento do cabo.
Para retirada do cabo de ignição recomenda-se o giro do cabo pelo terminal e uma “puxada” alinhada em relação a vela (puxe sempre pelo terminal, nunca pelo cabo). Obs – Existem ferramentas no mercado dedicadas a esta função.
Os erros de manuseio mais comuns associados aos cabos de vela são:
- Uso de ferramenta inadequada na remoção do terminal. Muitos utilizam o alicate universal e provocam o rasgamento da proteção do terminal originando fuga de corrente;
- Deixar o cabo desencaixado do seu suporte, causando atrito com outros componentes ou sendo submetido a altas temperaturas originadas por componentes circunvizinhos;
- Puxar o cabo pelo fio danificando o terminal;
- Instalação de cabos com conectores oxidados.
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A manutenção preventiva dos cabos é recomendada a cada 03 anos ou 70.000km. Em caso de utilização com GNV a troca deve ser antecipada.
Texto: Marcelo Valério dos Santos
Engenheiro Mecânico com especialização em Automobilística. Professor de Ensino Técnico e Universitário. Criador de Conteúdo Digital.